Naquele dia só queria mesmo uma ganza para fumar. Queria vir
para casa sossegada, como sempre, tranquila. O mano do costume mandou-me passar
na casa dele, bem, ele não mandou disse que não ía sair de casa e que se eu
realmente quisesse havia de me deslocar. Que remédio né… Duas da manhã e
bato-lhe à porta, estava encostada então fiz o favor de entrar. Uma sala meia
imunda, estavam lá uns espanhois, logo fiz logo amizades. Eles estavam todos
pedrados e eu a tentar perceber do quê para ficar igual. Na parede a grande bandeira com o símbolo da
anarquia, velas por todo o lado, eles não tinham electricidade. Punks de
cabelos verdes e cristas ate ao teto, depois havia esta miúda, a Lily. Andava
toda sorridente, a beber do copo dos outros,a fumar dos cigarros dos outros,
com aquela postura mágica em que se assume que o mundo nos pertence. Ela fez-me
lembrar eu, eu com a minha maior moca de MD a achar que domino o mundo. Eu com
o meu sorriso meticulosamente desenhado e prolongado. Ela era a única mulher ,
para além de mim, no entanto adivinhava-se bem a silhueta do corpo dela,
envolta numa espécie de vestido, ou numa teia de aranha, não percebi bem.
Falava com este e com aquele e deixava-lhes a todos o maior encanto da terra.
Magia. Eu conheço bem.
Eu até estava bem alí, quando a minha erva me foi entregue,
fiz um charuto e deixei-me estar mais um bocado, a ver que saí dali. Ás vezes,
quando fumo, deixo de saber falar inglês, nem português nem merda nenhuma, esta
erva é muito forte, um tanto paranoica é preciso ter cuidado. Já dei por mim a
falar sozinha em casa, altos filmes na cabeça mas no dia seguinte está tudo
bem. Quando a Lily se dirigiu a mim, ela sabia que eu a estava a observar e
claro que ela amou. Cravou-me o charro e depois o copo. Claro! Mas quando a vi
mais de perto reparei nos braços, nos talos… nas manchas negras, marcas, enfim.
Toda uma odisseia naqueles braços.
Foi quando decidi vir-me embora. Afinal aquela não era bem a minha praia. As pessoas são muito hardcore por aqui. Ou é tudo ou nada.
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