domingo, 31 de março de 2013

A melancolia é um licor caro, do qual me embebedo frequentemente.
EU caminhava nos meus passos largos e desajeitados, o cinto do casaco descaído, desenhava o meu rasto no passeio. Retomava a casa depois de dias a devorar o mundo, os meus olhos denunciavam as horas de sono que eu já devia à cama, e o cabelo despenteado, mas não quis saber. Já quase nem sentia os pés, vinha de headphones e cigarro, tão mergulhada em mim mesma que se explodisse uma guerra eu não dava por ela. Quando entrei no meu jardim sentei-me nas escadas de pedra, onde simplesmente apreciei o sitio onde vivo. A verdade é que a manhã nascia nova, promessa da primavera, não sei. Mas ouvia, a intervalos musicais, os pardais a cantar e até o bater de asas das pombas. Eu até nem gosto muito delas, confesso. Há poucas coisas das que eu goste, pois eu, quando gosto, eu gosto com tudo o que tenho e sou. E de tanto ser fico sem nada…E não tenho forças para gostar de muito mais. Mas há manhãs assim, há momentos assim, de profunda clareza, em que simplesmente me sinto bem por ser quem sou e estar onde estou. E nesses breves instantes de lucidez, eu não consigo escrever à velocidade do pensamento, perco ideias pelo caminho, às vezes confundo-me, ouço vozes que não são minhas, já fui uma estranha a mim mesma, e já vivi com tantos medos que abafei as vontades. Mas, felizmente, há momentos assim, em que a minha maior ânsia é vir escrever palavras como estas. Apesar das vozes, apesar das drogas, das pessoas e os copos, apesar da minha morada sem nome, da roupa sempre a mesma, apesar do meu aparente desleixo, das rastas, das unhas e dos discursos; eu sei muito bem o que sou e o que estou a fazer e detesto quando duvidam disso! O meu ar louco tem cura, e limite. Dormir tem passado sempre para depois, depois de trabalhar, depois de sair, depois da festa, esqueço-me até de há quantos dias tenho vindo a dizer depois. Eu ouço vozes e se calhar, é porque não lhes dou descanso. Dormir sim mas depois de escrever. Descansar também, mas so depois da música acabar.

domingo, 17 de março de 2013

Sei que sou grande e sei que tens vertigens só de olhar...