domingo, 12 de janeiro de 2014

O natal é mentira

É no natal quando mais me lembro que morreste. No ano passado, fui a palhaça de serviço, fiz toda a gente rir e toda a gente são 3 pessoas. O natal lembra-me que não tenho uma família grande. Bebi todo o álcool que pude, é provável que tenha chorado umas lagriminhas, não quis saber de fantochadas, prendinhas e luzinhas. Pró caralho com a hipocrisia. Quis saber de drogas e de merdas que me iam ajudar a esquecer que é no natal, quando mais me lembro de ti. E esta sou eu a fumar charros com desconhecidos, esta sou eu numa cidade nova, e esta sou eu a cantar na rua e a escrever disparates em cadernos gastos. Disparates! Todos os meus sonhos são disparates.
As ruas estão iluminadas e as pessoas compram tralhas para trocarem umas com as outras, os sem-abrigo continuam sem-abrigo, o frio continua frio, rios de dinheiro gastos em comida que ninguém vai comer, só para enfeitar a mesa, para dar o ar, para fazer sala. Os comboios continuam atrasados, as rádios cospem musiquinhas natalícias e só me apetece vomitar. Estou numa avenida qualquer de Londres, sozinha e bêbada e tudo me parece de mentira. Eu continuo viva e tu continuas morta e é no natal quando mais me lembro.
Esta sou eu nos parques, a fumar erva e a beber JD, esta sou eu à procura de minha casa, a pensar na vida depois da morte, a passar a música a frente, a ouvir o mesmo álbum até à exaustão. A caminhar para casa, é tarde, é perigoso mas eu também sou. Mais disparatada que a morte, só mesmo a vida.
O natal acabou e eu estou aliviada. Não há mais fretes, não há tantas farsas nem tantas pressas. Eu continuo lunática. Ando de comboio e as pessoas são estranhas e fechadas, centradas nos jornais, nos telemóveis, as pessoas acham que estão informadas mas elas não percebem nada. Não sabem o que se está realmente a passar. Eu costumava escrever e olhar para a janela, na procura daquele ponto no horizonte que me ilumina o raciocínio. Eu procurava inspiração nas pessoas… Eu era ingénua. Eu achava que tinha um discurso firme o suficiente para iluminar o mundo… eu era ambiciosa. Mas isso eram só os meus sonhos e já se sabe que são disparatados.
Eu não gosto de ser contra-sistema, não gosto de ser a carta fora do baralho, a ovelha negra. Mas esta sou eu e não da para ser cego depois de ver.

Tu sabias quem eu era muito antes de eu ser alguém.

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