terça-feira, 25 de março de 2014

Eu costumava sonhar com as cabines vermelhas e os autocarros de dois andares, sonhava com o big ben e com uma viagem só de ida. Um dia o meu relógio parou e apostei tudo no meu sonho. Magoada com meio mundo e revoltada com o resto, eu hoje só tenho a agradecer a todos aqueles que me viraram a cara porque sem dúvida me empurraram para a melhor aventura da minha vida.
 Eu sofria tanto pelas pessoas… eu levei tantas desilusões. Eu amei tanto em vão e em silêncio. Sentia-me tão ridícula a maior parte do tempo. As minhas verdades nunca tinham cabimento, a minha vida era uma espera contínua pelo fim de semana pois eu no fundo, só me queria sentir viva e rodeada de amigos.
Quando volto à minha cidadezinha, ouço estas mentes pequeninas, ‘’paga aí a conta, afinal tu é que és a emigrante’’. Estas pessoas não fazem a mínima ideia da minha luta diária, não sabem que venci mas venci a muito custo. Todos querem sair, querem apostar tudo  mas eu sei que lhes falta coragem. Eu achava que sabia o que é ser-se só, eu achava que o sentimento de abandono me era familiar, mas eu não tinha a mínima ideia. Viver no estrangeiro, não significa rios de dinheiro, não significa festas todos os fins de semana. Ao dia de hoje, não tenho amigos ou família. Tenho-me a mim e basta. Acabaram-se as choradeiras por quem não merece, acabaram-se as queixas. Eu saio à rua e sei que não vou encontrar ninguém conhecido, estou segura, estou longe. Viver no estrangeiro significa engolir muitos sapos, trabalhar a troco de nada, acordar às quatro da manhã e rotinas que, sinceramente, dão cabo de mim. Estas pessoas não sabem dos ‘’nãos’’ que eu ouvi até chegar ao sim. Não sabem quantas portas me foram fechadas e de quantas vezes olhei para o céu com desespero à espera de uma resposta.

 Por isso NÃO, não pago conta nenhuma, não conto história nenhuma porque também não vim para vos entreter, entendam que já não tenho espaço na minha vida para fantochadas ou para joguinhos do faz-de-conta. Entendam que ao dia de hoje, mulher ou criança, sou independente, e já não corro atrás de ninguém. Depois de algum tempo, deixei de me preocupar com ''quem me vai deixar pois a questão agora é mesmo quem me vai parar.''

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