quarta-feira, 30 de abril de 2014

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Naquele dia só queria mesmo uma ganza para fumar. Queria vir para casa sossegada, como sempre, tranquila. O mano do costume mandou-me passar na casa dele, bem, ele não mandou disse que não ía sair de casa e que se eu realmente quisesse havia de me deslocar. Que remédio né… Duas da manhã e bato-lhe à porta, estava encostada então fiz o favor de entrar. Uma sala meia imunda, estavam lá uns espanhois, logo fiz logo amizades. Eles estavam todos pedrados e eu a tentar perceber do quê para ficar igual.  Na parede a grande bandeira com o símbolo da anarquia, velas por todo o lado, eles não tinham electricidade. Punks de cabelos verdes e cristas ate ao teto, depois havia esta miúda, a Lily. Andava toda sorridente, a beber do copo dos outros,a fumar dos cigarros dos outros, com aquela postura mágica em que se assume que o mundo nos pertence. Ela fez-me lembrar eu, eu com a minha maior moca de MD a achar que domino o mundo. Eu com o meu sorriso meticulosamente desenhado e prolongado. Ela era a única mulher , para além de mim, no entanto adivinhava-se bem a silhueta do corpo dela, envolta numa espécie de vestido, ou numa teia de aranha, não percebi bem. Falava com este e com aquele e deixava-lhes a todos o maior encanto da terra. Magia. Eu conheço bem.
Eu até estava bem alí, quando a minha erva me foi entregue, fiz um charuto e deixei-me estar mais um bocado, a ver que saí dali. Ás vezes, quando fumo, deixo de saber falar inglês, nem português nem merda nenhuma, esta erva é muito forte, um tanto paranoica é preciso ter cuidado. Já dei por mim a falar sozinha em casa, altos filmes na cabeça mas no dia seguinte está tudo bem. Quando a Lily se dirigiu a mim, ela sabia que eu a estava a observar e claro que ela amou. Cravou-me o charro e depois o copo. Claro! Mas quando a vi mais de perto reparei nos braços, nos talos… nas manchas negras, marcas, enfim. Toda uma odisseia naqueles braços.

Foi quando decidi vir-me embora. Afinal aquela não era bem a minha praia. As pessoas são muito hardcore por aqui. Ou é tudo ou nada.

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